‘Vai piorar antes de melhorar’, diz brasilianista sobre crise entre Brasil e EUA
A recente intensificação da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos tem levantado tensões e preocupações em ambos os países. Brian Winter, brasilianista e editor-chefe da revista Americas Quarterly, avalia que a situação pode se agravar antes de apresentar sinais de melhora. O estopim para o agravamento das relações foi a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, além da revogação de vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do procurador-geral da República pelo governo dos Estados Unidos.
Contexto da Crise
A administração Trump, durante seu segundo mandato, intensificou políticas protecionistas, aplicando tarifas que alcançaram picos históricos. Em meio a um cenário global de tensões comerciais, decisões como a imposição de tarifas sobre cobre e aço e a investigação de setores-chave como farmacêuticos e semicondutores demonstram uma abordagem agressiva. Trump defendeu suas medidas como uma forma de promover a manufatura doméstica e proteger a segurança nacional, apesar de críticas internas e externas.
As sanções impostas ao Brasil são justificadas por Washington como uma resposta ao tratamento dado pelo judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro, réu em um processo criminal por tentativa de golpe de Estado, enfrenta pressões tanto do cenário político interno quanto do externo, com implicações que se estendem à sua liberdade e ao futuro político.
Escalada de Tensão
Winter, que viveu uma década na América Latina, vê a persistência de Trump em atingir o Brasil como reflexo de questões pessoais e políticas. Bolsonaro, que chegou a ser comparado a Trump devido a investigações por seu suposto papel em ataques às instituições democráticas, tem uma relação que se entrelaça com a narrativa política americana. Trump’s uso do International Emergency Economic Powers Act para impor tarifas é controverso, mas exemplifica sua disposição em usar todas as ferramentas disponíveis contra o que ele considera ser tratamentos injustos com aliados ou semelhantes à sua própria situação.
Enquanto a família Bolsonaro aparenta utilizar o confronto como estratégia política, visando um possível retorno ao poder, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva observa o conflito com cautela, mas não sem perceber oportunidades de galvanizar apoio interno contra o que pode ser considerado ingerência externa.
Possíveis Desdobramentos
O cenário de curto e médio prazo para a relação Brasil-EUA é visto com pessimismo por Winter, que aponta a ausência de diálogo efetivo entre os altos escalões dos dois governos como um fator complicador. A postura confrontativa pode levar a uma escalada de medidas retaliatórias, exacerbando tensões que já afetam a economia brasileira.
O papel preponderante de figuras como Eduardo Bolsonaro, na promoção de certas narrativas em Washington, e a resposta do governo brasileiro, que envolve uma estratégia complexa de comunicação e alianças internacionais, serão determinantes. Há ainda a questão da relação com a China, que pode ser alterada em função dessa crise latente com os Estados Unidos.
Enquanto o clima permanece tenso, a solução parece distante, deixando empresas e setores da sociedade civil a agir nos bastidores, buscando mitigar danos e evitar um colapso total nas relações bilaterais.
Dado o cenário, as próximas semanas serão críticas para os governos de ambos os países, com potenciais movimentos que podem redesenhar alianças e definir o rumo das relações internacionais do Brasil com superpotências globais.