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Por que uma queda nas exportações para os EUA pode não deixar a carne mais barata no Brasil?

Recentemente, uma nova tarifa de 50% imposta pelas autoridades norte-americanas, sob a administração do ex-presidente Donald Trump, sobre a importação de carne bovina brasileira, gerou discussões acerca do impacto dessa política no mercado interno brasileiro. No entanto, apesar da expectativa de que uma menor demanda dos Estados Unidos pudesse resultar em preços mais baixos para o consumidor brasileiro, a realidade é mais complexa e sugere um cenário diferente.

A Distinção entre Oferta e Procura

Numa análise inicial, a aplicação de tarifas elevadas sobre as exportações brasileiras sugere que o fluxo de venda de carne bovina aos EUA — que atualmente representa cerca de 12% das exportações totais do setor — poderia diminuir significativamente. Em princípio, isso significaria maior disponibilidade do produto no mercado doméstico, potencialmente reduzindo os preços. Mas uma visão aprofundada mostra que esta equação não é tão direta. De acordo com especialistas do setor, como Wagner Yanaguizawa, do Rabobank, e Cesar de Castro Alves, do Itaú BBA, a oferta interna de carne tende a diminuir por conta de um planejamento estratégico que visa ajustar a produção a longo prazo.

Redução da Oferta e Planejamento Pecuário

Nos últimos meses, a indústria de carne bovina já vinha adotando medidas para reduzir o número de abates, ajustando suas estratégias para reter mais fêmeas para fins reprodutivos, um movimento que é parte do ciclo pecuário natural. Essa retração planejada na produção, aliada à resposta ao tarifaço, indica que a oferta no mercado interno pode não comportar o aumento desejado para baixar os preços.

Yanaguizawa explica que, apesar de parte dos bovinos inicialmente destinados à exportação poder ser redirecionada para o consumo interno temporariamente, a estabilização e subida dos preços serão inevitáveis devido à redução do abate planejada para os próximos meses. Adicionalmente, é importante notar que cerca de 80% da carne bovina produzida no Brasil é consumida internamente, o que minimiza o impacto de variações nas exportações.

Adaptação e Novos Mercados

No médio prazo, o Brasil está se preparando para redirecionar suas exportações para outros mercados. Países como o Egito têm demonstrado aumento na demanda por carne bovina, oferecendo novas oportunidades para os exportadores brasileiros substituírem a fatia de mercado perdida nos EUA. De fato, a projeção global é de uma diminuição na oferta de carne, com quedas esperadas também nos Estados Unidos e Austrália devido a questões de saúde animal e outras limitações de produção. Este cenário favorece as exportações brasileiras, que podem encontrar menos competição em mercados alternativos.

Conclusão

Apesar de à primeira vista uma redução nas exportações para os Estados Unidos sugerir uma queda nos preços internos da carne devido à maior disponibilidade, a realidade apresenta nuances que envolvem planejamento pecuário, ajustes estratégicos da indústria e dinâmicas de mercado internacional. Portanto, a perspectiva de carne mais barata no Brasil não deve se concretizar de forma imediata, destacando a complexidade do setor agropecuário e sua interdependência com as políticas internacionais.

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